Boeing 747 da National Airlines entrega foguete coreano HANBIT‑TLV ao Centro de Alcântara 11 outubro 2025
Luiz Guilherme 1 Comentários

Na manhã de sexta‑feira, 2 de dezembro de 2022, um National Airlines Boeing 747‑400 de carga decolou do Aeroporto Internacional de Incheon, na Coreia do Sul, carregando o pesado HANBIT‑TLV, um foguete híbrido desenvolvido pela startup sul‑coreana INNOSPACE. A operação marcou a primeira vez que um veículo de lançamento tão grande cruzou o Pacífico a bordo de um avião de carga comercial, rumo ao Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão.

Contexto: por que Alcântara é um ponto estratégico

Alcântara, que fica a apenas dois graus ao norte da Linha do Equador, oferece uma vantagem natural para missões orbitais: foguetes lançados dessa região precisam de menos combustível para atingir órbitas equatoriais, como a geossíncrona. Essa característica atrai investidores internacionais e abre espaço para parcerias como a firmada entre a INNOSPACE e o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) do Brasil.

Além da proximidade com o equador, Alcântara possui histórico de lançamentos bem‑sucedidos, mas ainda enfrenta desafios de infraestrutura – falta de conexão de internet de alta velocidade, instalações aeroportuárias limitadas e estradas que exigem três horas de viagem por barcaça para chegar à base de lançamento.

Detalhes da carga: o foguete HANBIT‑TLV

O HANBIT‑TLV mede 16,3 metros de altura, tem diâmetro de um metro e pesa 9,2 toneladas segundo ficha técnica da INNOSPACE. Contudo, o peso total da carga declarada foi de 15 toneladas, incluindo estruturas de suporte, tanques de combustível e equipamentos de teste.

Trata‑se de um lançador suborbital de estágio único, movido por propulsão híbrida – uma mistura de combustível sólido e líquido que oferece maior segurança e controle durante o voo. O objetivo principal era levar ao espaço o protótipo de navegação inercial SISNAV, um projeto financiado pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e pela Agência Espacial Brasileira (AEB).

A jornada do voo e as operações em solo

Depois de decolar de Incheon, o avião fez uma parada técnica em Dubai para reabastecimento, antes de seguir direto para o Aeroporto Internacional Marechal Cunha Machado, em São Luís, onde aterrissou na madrugada de sábado, 3 de dezembro.

Ao chegar, a equipe da Araujo Guindastes entrou em cena. O diretor Michel Araújo descreveu a operação como "um marco para o setor espacial no Brasil, especialmente no Maranhão". A empresa utilizou uma grua SANY SAC2500S, de baixo consumo energético, para mover componentes pesados e, finalmente, erguer o foguete até a área de montagem da base de Alcântara.

"Temos uma base que é considerada estratégica e tem a melhor localização geográfica do mundo, já que está perto da linha equatorial. Isso permite que os foguetes alcancem o espaço mais rápido e com menor consumo de combustível", ressaltou Araújo durante entrevista com a imprensa local.

Parcerias internacionais e antecedentes

Parcerias internacionais e antecedentes

A missão não surge no vácuo. Em 2021, a americana Virgin Orbit já havia testado seu lançador LauncherOne a partir de Alcântara, usando o avião‑carga "Cosmic Girl". Esse movimento foi possível após o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas de 2019, que permitiu que o Brasil lançasse foguetes contendo componentes dos EUA, preservando a propriedade intelectual.

Agora, com a colaboração da INNOSPACE, o Brasil diversifica ainda mais seu portfólio de parceiros. A troca de conhecimento entre engenheiros sul‑coreanos e brasileiros pode abrir portas para a produção de motores híbridos localmente, reduzindo a dependência de importações.

Impactos econômicos e sociais para o Maranhão

O contrato de cinco anos entre a Araujo Guindastes e o governo federal prevê mais cinco lançamentos em 2023, gerando cerca de 250 empregos diretos e vários indiretos na cadeia logística – desde operadores de guindaste até técnicos de telecomunicação.

Por outro lado, a região ainda sofre com a falta de serviços básicos. Moradores de São Luís e das comunidades vizinhas reclamam da ausência de hospitais bem equipados e de saneamento adequado. A chegada de projetos espaciais levanta esperança de investimentos em infraestrutura, mas também exige que autoridades locais garantam benefícios reais para a população.

O futuro: naval e instalações de apoio

O futuro: naval e instalações de apoio

Em paralelo ao desenvolvimento aeroespacial, a Marinha do Brasil (MB) estuda instalar um complexo naval e portuário na ilha de São Luís. O objetivo seria facilitar o transporte de grandes equipamentos espaciais por via marítima, uma alternativa mais econômica que o uso de aviões de carga.

O projeto, estimado em US$ 600 milhões, incluiria um porto de alto calado, armazéns protegidos e uma pista de apoio para helicópteros de manutenção. Se aprovado, poderia transformar a região em um hub multissetorial, combinando defesa, energia e tecnologia espacial.

Próximos passos para o HANBIT‑TLV

O teste suborbital está previsto para dezembro de 2022, mas a data exata ainda depende de condições climáticas e de validação dos sistemas de telemetria. Caso o voo seja bem‑sucedido, a INNOSPACE pretende iniciar a fase de desenvolvimento de um lançador de dois estágios, capaz de colocar pequenos satélites em órbita terrestre baixa.

Para o DCTA e a AEB, o sucesso do HANBIT‑TLV representaria um “sinal verde” para ampliar a colaboração com startups estrangeiras, fortalecendo a cadeia produtiva de tecnologias críticas no Brasil.

Perguntas Frequentes

Qual a importância da localização de Alcântara para lançamentos de foguetes?

Alcântara está a apenas dois graus do Equador, o que reduz significativamente a velocidade orbital necessária para colocar satélites em órbita equatorial. Isso significa menos combustível gasto, custos menores e maior capacidade de carga útil em cada lançamento.

Quem são os principais parceiros brasileiros no projeto do HANBIT‑TLV?

O Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), a Agência Espacial Brasileira (AEB) e a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) são os órgãos governamentais envolvidos. No âmbito operacional, a Araujo Guindastes cuida da logística e montagem da base de lançamento.

Quais benefícios econômicos o lançamento do HANBIT‑TLV pode trazer ao Maranhão?

Além dos empregos diretos na montagem e operação, o projeto pode atrair investimentos em infraestrutura, melhorar a conectividade da região e estimular a criação de startups de tecnologia espacial, gerando um efeito multiplicador na economia local.

Como a Marinha do Brasil pretende apoiar a logística espacial?

A MB está estudando a construção de um complexo naval em São Luís, estimado em US$ 600 milhões, que facilitaria o transporte marítimo de componentes de grande porte, reduzindo custos e dependência de rotas aéreas.

O que acontecerá se o teste suborbital do HANBIT‑TLV falhar?

Um fracasso levaria a uma revisão detalhada dos sistemas de propulsão e de telemetria, mas não necessariamente abortaria a parceria. A INNOSPACE já possui planos de contingência e a experiência acumulada ajudaria a corrigir falhas antes de futuros lançamentos.

1 Comentários

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    Luciano Pinheiro

    outubro 11, 2025 AT 00:55

    É incrível ver como um Boeing 747 da National Airlines conseguiu atravessar o Pacífico carregando um foguete tão pesado como o HANBIT‑TLV; isso realmente coloca o Brasil em uma posição de destaque no cenário espacial internacional. A localização de Alcântara, tão próxima do Equador, já era um trunfo, mas agora, com essa parceria coreana, o potencial de atrair mais investimentos só aumenta. Também é animador observar que a logística terrestre ainda tem desafios, mas projetos como o da Araujo Guindastes demonstram que há capacidade de superá‑los com criatividade e tecnologia avançada.
    Vamos torcer para que o teste suborbital seja um sucesso e abra portas para mais missões conjuntas.

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