Claudia Cardinale, lenda do cinema italiano, morre aos 87 24 setembro 2025
Luiz Guilherme 0 Comentários

Vida e carreira

Nasceu em 1938 numa família tunisiana de origem italiana e, ainda jovem, mudou‑se para a Itália em busca de oportunidades na sétima arte. O talento de Claudia Cardinale foi reconhecido rapidamente, culminando em papéis que se tornariam marcantes da história do cinema, como o de a dama da aristocracia em "O Leopardo" (1963) ao lado de Burt Lancaster e Alain Delon.

Ao longo da década de 1960, a atriz virou símbolo de sensualidade e força. Estrelou em obras de diretores como Luchino Visconti, Michelangelo Antonioni e Sergio Leone, participando de clássicos como "Os Bandidos" (1966) e "A Conquista do Oeste" (1962). Sua presença nas capas de revistas internacionais ajudou a consolidar a imagem da mulher italiana moderna.

Entretanto, por trás das câmeras, Cardinale enfrentou um drama pessoal que ficou guardado por sete anos. Durante a ascensão da carreira, engravidou em segredo e, para proteger a imagem pública, assinou um contrato que limitava sua vida privada. O produtor Franco Cristaldi, ao estilo hollywoodiano, impôs cláusulas que a impediam de admitir a gravidez, sob pena de ser banida dos filmes.

A atriz chegou a filmar até o sétimo mês, fingindo estar em plena forma. Foi enviada a Londres para o parto, com a justificativa de que estava estudando inglês para um filme. O fardo gerou depressão profunda, chegando ao ponto de considerar o suicídio. Apenas quando o jornalista Enzo Biagi revelou a história em revistas como "Oggi" e "L'Europeo" a verdade veio à tona, expondo a pressão que o show‑business exercia sobre as mulheres na época.

Últimos anos e legado

Últimos anos e legado

Mesmo depois desse episódio traumático, Cardinale manteve a carreira ativa por mais de cinco décadas. Nos anos 2000, fez aparições em produções italianas e internacionais, mostrando que a idade não diminuía sua energia artística. Em 2020, liderou a minissérie suíça "Bulle", interpretando uma personagem forte que lutava contra a corrupção local.

O mesmo ano, estreou no serviço de streaming Netflix com o filme de ação "Rogue City", que rapidamente se tornou o segundo título mais assistido no fim de semana de estreia. O sucesso demonstrou que o público ainda sentia atração pela presença marcante de Cardinale nas telas, mesmo em um cenário dominado por produções jovens.

A morte de Cardinale, ocorrida em sua residência em Nemours, na região de Île‑de‑France, mobilizou artistas, críticos e fãs ao redor do globo. Comentários nas redes sociais exaltaram sua capacidade de transitar entre o glamour hollywoodiano e o drama europeu, enquanto historiadores do cinema ressaltaram sua importância na internacionalização do cinema italiano.

Seu legado, porém, vai além das filmografias premiadas. Cardinale simboliza a resistência de uma mulher que, mesmo sujeita a contratos opressivos e a uma cultura de silêncio, soube transformar adversidades em arte. Seu caminho inspira novas gerações de atrizes que buscam autonomia e respeito dentro da indústria.

Com uma filmografia que inclui mais de setenta títulos e uma trajetória que atravessa três continentes, Claudia Cardinale deixa um vazio impossível de ser preenchido, mas também um mapa detalhado de como o cinema pode ser ao mesmo tempo belo e brutal. O mundo do entretenimento ainda sente sua falta, mas sua imagem permanece viva nas telas, nas histórias contadas e nos corações dos amantes do cinema clássico.